terça-feira, 25 de agosto de 2015

O registro sensível da realidade


O fascínio pelo jornalismo começou quando li um artigo da jornalista e escritora gaúcha Eliane Brum. Ela é uma daquelas pessoas que também acreditam que não existe jornalismo sem sensibilidade. A jornalista olha para a vida e para as pessoas de uma maneira diferente, sempre preferiu histórias pequenas e comuns. 



Desde o inicio da faculdade acreditei que poderia olhar para as histórias de uma forma diferente também, desse modo, poderia acrescentar alguma coisa na vida das pessoas. Conheci o documentário, e a paixão por esse gênero foi crescendo durante a faculdade. A meu ver, é uma linda forma de contar histórias através de imagens, sons, depoimentos. O documentário que mostra a vida de desconhecidos, o cotidiano de pessoas que a mídia não mostra, enfim, “a vida que ninguém vê”, sempre me instigou.

Resolvi contar histórias também e, nas reportagens, artigos que fiz durante a faculdade sempre quis buscar as histórias das pessoas e não das coisas, quis viver um pouquinho da vida dos outros e mostrar isso da forma mais humana e bonita possível. A junção de imagem, som, entrevistas e depoimentos proporciona isso de uma maneira sensível e inspiradora. 



Aos poucos, quero indicar a vocês documentários de representação social que mexeram comigo durante os últimos semestres. Começo hoje falando sobre o documentário A Cidade, da documentarista gaúcha Liliana Sulzbach.

Foi no início do semestre de 2013 que conheci alguns trabalhos da Liliana nas aulas da professora Luciana Kraemer. Em todas as suas produções eu enxerguei a forma sensível como retrata seus personagens. Me encantei! Por isso quero compartilhar um pouquinho dessa história com vocês!




O documentário A Cidade de Liliana Sulzbach foi produzido no ano de 2012. A Cidade ganhou prêmios importantes no Brasil e no exterior, como exemplo, o Prêmio Especial do Júri na 49° edição do Festival Internacional de Chicago.



Liliana Sulzbach apresenta o cotidiano de dez dos últimos trinta e cinco moradores da Colônia Itapuã.. O documentário é dividido entre o passado e o presente dos personagens. A estratégia narrativa, escolhida pela documentarista, privilegia o suspense ao optar por não mostrar logo de inicio a real história dos personagens, mas sim retratar o presente, como eles vivem hoje.

O filme se inicia com imagens de Itapuã. Essas imagens mostram um lugar paradisíaco, de beleza natural, os pássaros cantando, um lugar aparentemente tranquilo, são povoados por casas de arquitetura antiga onde vivem apenas idosos. A documentarista acompanha a rotina dos personagens. Ela coloca a câmera em um plano aberto e deixa que as coisas aconteçam naturalmente. Assim, vai apresentando a rotina simples deles dentro de casa, nas ruas, nos momentos de lazer, momentos de convivência entre eles. Uma rotina de aparente normalidade num lugar com idosos.



No decorrer do filme, olhando com mais cuidado, percebe-se os efeitos causados pelo isolamento, detalhes que fazem parte daquela história. Quem está atento passa a perceber leves rachaduras na organização daquele mundo. Aos poucos a câmera vai entrando na vida dos personagens e em um momento de diálogo entre eles o filme passa a revelar as verdadeiras origens do lugar.

É na metade do filme que a cena reveladora acontece. Os personagens estão na praia conversando. O principal assunto é relacionamento, amores antigos, lembranças de situações que ficaram no passado. Ainda com um plano aberto, relatam que muitos chegaram à cidade solteiros e casaram depois. As perdas de entes queridos. Anos de casados e a relação que nunca tiveram com os filhos, pois eram tirados deles.



Ao contar a procedência de Itapuã e o fator que une os moradores, A Cidade deixa de ser apenas um suposto registro sensível da vida na terceira idade. Em um jogo de preservar a história, revelar, olhar novamente a mesma cena, o principal efeito vem da montagem. Depois de revelar as origens do lugar, o documentário mostra parte das imagens que acabaram de ser exibidas (a rotina dos personagens novamente), mas que agora, por saber que se trata de pessoas deixadas pela família, obrigadas a viverem em confinamento e longe de tudo e de todos pelo fato de serem portadores do Mal de Hansen, ganham outro sentido.

A partir dessa revelação o documentário passa a mostrar as imagens de arquivos, usada pela documentarista como uma estratégia narrativa para reafirmar o presente deles com registros de cenas do passado. Com imagens em preto e branco é mostrado o Hospital Colônia Itapuã nos anos 40. Essas imagens são intercaladas com o cotidiano no presente, dos moradores que restaram. Novamente, as cenas são exibidas: seus hábitos, o lazer como a bocha e os banhos de rio, a igreja, o bate papo com os amigos dentro de casa e na rua, o chimarrão, o radinho de pilha, a festa no salão. Mas, agora, por saber dos mistérios do lugar, o filme ganha outro sentido. As imagens mostradas novamente fazem refletir.


Com esse truque de olhar novamente as mesmas situações, os mesmos gestos, A Cidade propicia muitas inquietações: permite ao espectador olhar novamente e refletir se ele está vendo dois filmes dentro de um; rever também o sentido de família, pois o que os une é um parentesco mais forte que o sanguíneo; tentar responder como aqueles moradores encontram momentos de tamanha comunhão quando há um passado de dor e sofrimento.


Enquanto se exibe novamente algumas cenas do cotidiano, depois da revelação, as falas dos personagens aparecem espontaneamente:

- Eu vim criança pra cá, tinha sete anos. Eu achava que não ia conseguir ficar aqui dentro, pensava: será que eu vou ter que ficar a vida toda aqui? (NAIR, desde 1956).

- Nosso lugar é aqui, não adianta sair. Fomos trazidos aqui à força, crescemos aqui. O que velhos com nossas condições vão fazer lá fora? (JURACI, desde 1958).

- Eu nem sabia que tinha isso daqui, fui ao médico e só me disseram que eu tinha que fazer repouso (JOÃO SALDANHA, desde 1971).

- Tinha uma estrada de chão, bastante poeira e eu perguntava onde estavam me levando e eles diziam: nós já vamos chegar, num lugar bem bonito (EVA, desde 1959).

O efeito que o documentário transmite não é o de exploração melancólica e nem de um documentário sensacionalista de Liliana Sulzbach, mas sim da superação de um passado doloroso, que causou tanto sofrimento. Ao mostrar a história dos personagens nas entrelinhas dos diálogos e cenas mostradas no filme, a documentarista deixa claro sua intenção: é preciso olhar com muita atenção e ter sensibilidade para perceber as raízes invisíveis daquela cidade.

O documentário repercutiu tanto que a diretora e sua equipe resolveram criar uma plataforma na web com mais detalhes, cenas do filme e entrevistas com os personagens que não aparecem no documentário.

Para acompanhar um pouco mais dessa história podem acessar A Cidade Inventada!

Que tenhamos mais jornalistas contadores de histórias comuns e verdadeiras e que revelam através de um registro sensível da realidade, a verdadeira essência da nossa profissão!!


Super beijo!


domingo, 16 de agosto de 2015

Morro de São Paulo, o morro da saudade!


É fácil escrever sobre o que eu senti em Morro de São Paulo. É só fechar os olhos que sinto até o cheiro daquele lugar. Voltei encantada, apaixonada, e acho que será amor pra vida inteira...



Foi paixão a primeira vista! Tudo conspirava a favor: o clima, a hospedagem naquela pousada aconchegante, a comida apimentada da Bahia, os sorrisos, a gentileza, o céu, o sol, o mar..

Em Morro de São Paulo encontrei um pôr do sol mágico na Toca do Morcego, no mirante do Farol e nas ruínas da Fortaleza. Encontrei o céu mais azul. Encontrei a ternura de uma gente de sorriso fácil e que se alegra em receber turistas do mundo inteiro.



Encontrei na vila o melhor do artesanato, na segunda praia fui ao melhor luau. Na terceira e quarta praia encontrei paz e tranquilidade nas águas calmas que com a baixa da maré se formam piscinas naturais, e os peixinhos, de diversas espécies, podem ser vistos nadando e se alimentando bem pertinho da gente. Em Boipeba fiz o melhor mergulho! Na praia da Cueira comi a melhor e maior lagosta, aquela do famoso Guido!

Um lugar tão encantador que não precisa de filtros. Tão simples que não precisa de salto alto. Tão tranquilo que não circula carros, nem ônibus. Sim, esse pedacinho do céu existe e está 300 km de Salvador. Uma vila localizada na Ilha de Tinharé, no município de Cairu, na Bahia. Esta região é conhecida como a Costa do Dendê.


Voltei da viagem com o sorriso mais largo, o coração batendo mais forte e os olhos transbordando a alegria de ter vivido uma das melhores experiências da minha vida!

Das belezas que vi e vivi, Morro de São Paulo é que vai deixar mais saudade! Senti uma paz tão grande, uma energia tão boa, que será impossível esquecer os dias que lá fiquei!

Aparência se vê, essência se sente! E em Morro, eu senti! Agora, morro é de saudade!

#euaproveitoavida